Dia das Crianças: como melhorar a alimentação com diversão hoje, garantindo a saúde de amanhã
Nada mais gostoso e divertido que falar sobre alimentação e crianças nesse mês tão alegre! Mas, na prática, o momento das refeições infelizmente nem sempre é tão animado assim, tampouco colorido… E aí vem aquela frase: “Meu filho não come porque não gosta!”. Como vítimas dessa afirmação, encontram-se escamoteadas as frutas, verduras e legumes. Mas, vamos voltar um pouquinho: por que essa afirmação é tão recorrente?
A habilidade do ser humano em perceber os sabores presentes nos alimentos envolve a assimilação de múltiplos sentidos, principalmente olfato e paladar. Tais sentidos possuem característica adaptativa, funcionam ainda antes do nascimento e continuam a amadurecer durante toda a infância.
Apresentamos uma preferência inata pelos sabores doce e salgado e uma aversão aos odores e sabores azedos e amargos (isso representa um mecanismo de defesa contra alimentos estragados ou contaminados). Entretanto, pelo fato de o paladar ser adaptável, são necessárias cerca de onze exposições a determinado alimento até que o corpo o reconheça e decida por aceitá-lo bem ou não. Ou seja, a dificuldade de aceitação por parte dos pequenos é notória, mas o motivo pelo qual há resistência pouco tem a ver com o fator paladar — na maioria dos casos, a oferta e a persistência são limitadas.
Como resultado, as crianças naturalmente irão preferir alimentos ricos em açúcar e sal em vez dos azedos e amargos, como são algumas frutas e legumes (maracujá e rúcula, por exemplo). O que acaba acontecendo é que, na primeira careta ao vegetal, os pais e/ou cuidadores não oferecem mais tal alimento ao pequeno.
A questão é: como dizer que a criança não gosta de certo alimento se nem lhe é dada a oportunidade para conhecê-lo? Ou ainda: como afirmar que a preferência por doces é individual, se sabemos que isso nos pertence em essência? O que é necessário é evitar ao máximo a exposição ao açúcar para que a criança não desenvolva seu paladar baseado na presença dele; caso contrário, as consequências serão nada doces.
Embora essas preferências de sabor inerentes à espécie humana não sejam compatíveis com um padrão de alimentação saudável, elas podem ser ajustadas a partir de experiências sensoriais. A educação nutricional é essencial e deve ser iniciada o quanto antes, de modo a garantir a formação de hábitos e comportamentos alimentares adequados que perdurarão ao longo da vida. Tudo o que a criança vivencia e participa influencia tanto na relação quanto sobre a aceitação daquilo que foi feito, visto e sentido. Isso vale para a alimentação.
Quando a criança é envolvida na escolha, na aquisição, na organização, no preparo e no entendimento das refeições, incentivamos uma relação diferente com o alimento e aumentamos a vontade de experimentar – e a chance de gostar! A principal estratégia para aproximar a criança da alimentação saudável é convidá-la a participar – não como espectadora, mas sim como agente da transformação do alimento, desde a montagem da lista de compras (que tal deixá-la escolher 3 cores diferentes a cada semana e fazer uma caça ao tesouro dessas cores na feira?).
Quando a criança participa da elaboração do prato, ela descobre, conhece, experimenta, aceita e aprova muitos alimentos que antes eram recusados, uma vez que foi ela mesma quem o preparou - momento no qual a educação sobre a alimentação ganha espaço.
O paladar é desenvolvido principalmente até os dois anos, idade até a qual é de extrema importância jamais oferecer açúcar e alimentos ultraprocessados à criança. Portanto, desde o início da alimentação complementar, a criança deve ouvir sobre o alimento e, apesar de acabar com manga na testa e beterraba no pé (e no chão, nas paredes...), a persistência na oferta de opções saudáveis deve sempre estar presente, sem cobranças rígidas, de maneira lúdica e reforçando a importância da higiene, para que, desde cedo, o pequeno colabore na cozinha, seja alcançando produtos, misturando ingredientes ou montando sua lancheira, trabalhando também sua autonomia e senso de cooperação.
Além de instigar o interesse dos pitocos por uma alimentação mais equilibrada, a experiência de colocar as mãos na massa também ensina lições que, cedo ou tarde, hão de passar: criatividade (1), paciência (2), reação a expectativas (3) e boas escolhas (4), por exemplo: “que ingredientes podemos usar para deixar o prato mais colorido ou o preparo mais saudável?” (1); “será necessário esperar a batata assar e a lentilha esfriar” (2); “a panqueca pode ter ficado diferente daquela da foto e a montagem do prato pode não sair como imaginamos, mas tudo bem, vamos aprender mais e tentar fazer sempre nosso melhor” (3); “a bananinha zero açúcar e o bolinho sem corantes e aditivos artificiais não prejudicam os dentes e dão energia sem deixar agitado” (4).
Portanto, eduque, cuide de saúde do pimpolho e divirtam-se, tudo ao mesmo tempo. Na infância, tato, olfato e paladar comandam a diversão e proporcionam descobertas ao lado de quem mais importa e mais amamos: a família!
Nutricionista e Mãe